domingo, 8 de março de 2009

12 palavras de um jogo

Querida madrinha. Espero que este aerograma a vá encontrar de saúde, aí no continente. Aqui a guerra continua, embora não chegue tão perto do aquartelamento.
Madrinha, há um oceano a separar-nos, mas dentro de mim sinto-a sempre a meu lado. A batida, tictac, do meu coração assim o diz. Sei que não devia escrever deste modo, mas a situação é esta. Aqui, na vasteza desta terra, as coisas e os pensamentos têm uma dimensão diferente. Nos tempos mais calmos, e felizmente há muitos, deixo-me cair nos braços de morfeu. E é sempre a madrinha que vejo, nos meus sonhos. (o próximo navio não traz carta sua, a madrinha vem em pessoa). Estou talvez a ferir os seus sentimentos porque sempre foi sincera comigo e não me alimentou falsas esperanças. Mas a vida é assim. Tento dar uma sacudidela aos pensamentos mas volto sempre ao mesmo.
(Madrinha, ontem um tigre veio visitar-nos e, coitado, parecia ter mais medo de nós do que nós dele…)
Aqui, no meio do mato, sentimos a força do vento de uma maneira diferente. Como é diferente a cor de fogo quando o sol se põe. Acredite, madrinha, tamanha oscilação entre o que há aqui e aquilo que conhecia na terra, dá para pensar.
Pouco mais tenho a escrever e só espero que me perdoe as confidências. De modo algum queria que deixasse de me escrever. De animar os meus dias. A madrinha é soberana para decidir o que fazer. Termino com um grande abraço e um obrigado pela sua amizade.
Seu afilhado amigo,
RT



De um jogo mensal no Blogue EREMITÉRIO.


1 comentário:

Conceição Paulino disse...

deliciosa carta esta tua. Parabéns pela riqueza do imaginário. Aqui e nos outros textos.
Bom f.s.
Bjs
Luz e paz e melhoras